ENREDOS
Este trabalho foi feito depois de voltar de um carnaval fora do Brasil. Nesta série, quis mostrar, mais uma vez, uma característica muito presente na minha obra: a religião. A minha busca constante para retratar a religião sob o meu olhar me levou a reinterpretar a semana do carnaval, uma festa nascida a partir da religião, numa série de sete trabalhos. Cada dia da semana é personificado por um dançarino carnavalesco, idealizado por meio de recortes de jornal. Sob essa ótica, vou realizando a composição de cada personagem com diversos pedaços de notícias recortadas de diferentes páginas de um mesmo jornal. É interessante reparar na mistura dos personagens, pedaços de fotos de guerras, soldados, rebeldes, dançarinos, pobres, ricos, festas, comemorações, crianças, adultos, animais, esportes, personalidades, formando imagens alegres como o próprio carnaval. Nessa obra, dou uma sequência visual ao conjunto dos sete dias através de explosões feitas de parafina derretida, derramada de uma altura de 178 centímetros (a minha altura). A parafina utilizada para essas explosões foi recolhida de sobras que ficam nas igrejas durante a semana do carnaval. Eu acredito que cada vela acesa numa igreja é uma prece feita por um fiel e que, quando chega ao fim a prece foi ouvida, por isso pode-se dizer que a obra também é feita de preces ouvidas. Pode notar que, em cada uma das sete obras, assinalo as páginas das quais retirei cada pedaço de foto que compõe o personagem. Com essa série,“Enredos”, tenho como resultado uma imagem única, as colagens desaparecem dando lugar a um corpo em forma de dançarino, e a parafina derretida vira explosões de alegria, resultando numa obra escultórica.